A Inflamação

O processo inflamatório é natural e vital para o corpo, pois tem o objetivo de protegê-lo e de reparar tecidos e órgãos para que voltem a funcionar normalmente.

Esse processo tem começo, meio e fim, mas nem sempre funciona assim e, às vezes, o corpo não pára nunca de trabalhar. Nesse momento, entra em cena um outro tipo de inflamação, a crônica, que, no longo prazo, prejudica órgãos e tecidos saudáveis. Inúmeros estudos, inclusive, já relacionaram a inflamação crônica a doenças como obesidade, diabetes, hipertensão, depressão, aterosclerose (acúmulo de gordura nas veias e artérias, fator de risco para AVC e infarto), câncer e até Alzheimer.

Mas, como ocorre, de fato, a inflamação?

A inflamação começa como uma reação do organismo diante de alguma ameaça, que pode ser desde um corte, lesão, fratura, uma infecção causada por vírus, bactérias, fungos etc., até um contato com substâncias químicas e tóxicas. Nesse momento, o sistema imunológico é ativado e envia glóbulos brancos (os leucócitos) para a área afetada. A partir daí, subtâncias inflamatórias, as citocinas, avisam as células de defesa que é preciso trabalhar. 

Ocorre, então, uma vasodilatação, que aumenta a corrente sanguínea e facilita o transporte dos glóbulos brancos, de nutrientes e de outras substâncias ao local afetado. Surgem calor, inchaço (edema) e vermelhidão na região, por causa desse maior fluxo de sangue. 

Enquanto isso, "soldadinhos" trabalham para impedir que microrganismos se espalhem, e outras células (os macrófagos) vão remover os restos de tecidos mortos ou danificados para que tudo seja reconstruído e o corpo volte a funcionar corretamente.

Na última etapa do processo, quando o tecido ou órgão é reparado, o organismo produz moléculas anti-inflamatórias para suspender a inflamação.

Ocorre que, na inflamação crônica, essa última etapa não acontece, ou seja, há uma contínua produção de moléculas pró-inflamatórias e diminuição de substâncias anti-inflamatórias.

E o que a inflamação crônica provoca no corpo?

Uma inflamação que dure mais de três meses é considerada crônica e já começa a fazer mal ao organismo. No longo prazo, o ataque inflamatório natural que ocorre no corpo — e que é muito importante — cria lesões em tecidos e órgãos saudáveis. E se o processo inflamatório durar anos, pode levar à perda de função daquele tecido por lesões que podem ser irreversíveis.

É comum também que pessoas com inflamação crônica tenham fadiga, depressão e/ou ansiedade, variações de peso, dores no corpo, problemas gastrointestinais (prisão de ventre, diarreia, gastrite), infecções constantes pela baixa imunidade.

Tudo isso é provocado pelo estresse que a inflamação impõe ao corpo. Com o sistema imunológico trabalhando o tempo todo, é natural que a energia seja direcionada para ele, que deixa de atender a outras áreas de forma eficiente.

A vida sem inflamação crônica é possível?

Especialistas dizem que é sim possível. Um dos segredos está em ter um estilo de vida saudável, importante para modular e ativar nossa imunidade de modo eficientemente. Isso significa que devemos buscar gerenciar o estresse, ter boas noites de sono, praticar atividade física regularmente, não fumar, maneirar no consumo de álcool.

É durante o sono, por exemplo, que o organismo realiza, no cérebro, uma limpeza de substâncias que são pró-inflamatórias e que causam doenças neurodegenerativas. 

Também a atividade física é anti-inflamatória, pois estimula a regeneração dos músculos e modula a resposta do sistema imunológico. 

Muito se fala também sobre alimentos que "inflamam o corpo". De fato, alguns alimentos tendem a aumentar a produção das moléculas pró-inflamatórias, mas a questão não é olhar tanto para os alimentos, mas para a quantidade consumida. Falaremos mais sobre isso em outro post. 

O que já se sabe, de fato, é que a qualidade da microbiota intestinal — que é bastante influenciada pelo consumo de fibras — pode reduzir ou aumentar a resposta inflamatória do corpo, já que as bactérias presentes no intestino "conversam" com as nossas células de defesa. Já falamos sobre esse assunto aqui no Blog: Microbiota (flora) intestinal, doenças reumatológicas e alimentos prebióticos, probióticos e simbióticos.

Mas não há milagres. Não se trata de fazer simplesmente isso ou aquilo para acabar com a inflamação. O importante é adotar bons hábitos


Fonte:

SANCHES, Danielle. Inflamação: culpada ou não? Viva Bem/UOL. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/reportagens-especiais/inflamacao-mocinha-ou-vila/#end-card. Acesso: 23/12/2023.