Diabetes: qual a relação com as Artrites?

Segundo a Federação Internacional de Diabetes, existem 537 milhões de pessoas vivendo com diabetes (1 em cada 10 pessoas entre 20 e 79 anos). Desses, 15.7 milhões viviam no Brasil, até 2021. E segundo a mesma estimativa, até 2045 teremos, em nosso país, cerca de 23.2 milhões de diabéticos entre 20 e 79 anos.

Há dois tipos de Diabetes. No diabetes 1, doença autoimune, tem-se pouca ou nenhuma produção de insulina pelo pâncreas. E quando isso ocorre, o corpo não consegue absorver a glicose no sangue e, então, o nível desse açúcar fica muito alto. A solução é injetar insulina diariamente para que a glicose possa ser absorvida pelas células.

No diabetes 2, o mais comum, o pâncreas produz insulina, mas, como acontece no diabetes 1, o corpo não consegue absorver a glicose do sangue, que fica muito alto. Além do fator hereditário, que é maior que no diabetes 1, existe também grande relação com o estilo de vida, em especial com o sedentarismo e a obesidade. A solução aqui é ter uma dieta saudável e livre de açúcar, tomar medicamentos que reduzem o nível de açúcar no sangue e, em casos mais resistentes, injetar insulina.

E o que tudo isso tem a ver com doenças reumatológicas?

De fato, as doenças não têm relação direta de causa e efeito, mas coexistem. Segundo dados do Center of Disease Control and Prevention (EUA), cerca de 52% das pessoas com Diabetes têm também algum tipo de Artrite.

A conexão mais provável entre a Artrite Reumatoide (AR) e diabetes 2, por exemplo, envolve o acúmulo das “famosas” citocinas pró-inflamatórias, principalmente o fator de necrose tumoral (TNF). No diabetes 2, as células de gordura produzem TNF, que pode fazer com que o corpo desenvolva resistência à insulina ao longo do tempo. Na AR, o ataque do sistema imunológico às articulações faz com que o TNF se acumule no corpo, favorecendo a inflamação. Isso mostra como as doenças não só coexistem, mas também como se afetam mutuamente.

Outras conexões possíveis entre AR e diabetes 2 estão relacionadas a medicamentos e ao estilo de vida. Certos medicamentos, como os corticóides, podem aumentar a probabilidade de desenvolvimento de diabetes tipo 2. Além disso, a AR, por causa das limitações que traz, pode levar uma pessoa a ter um estilo de vida mais sedentário, o que é um fator de risco para diabetes 2.

Existe também conexão entre a Osteoartrite (OA, a popular Artrose) e o diabetes 2, que compartilham, pelo menos, dois fatores de risco importantes: idade e peso. A Osteoartrite é mais comum em idosos e, segundo a Arthritis Foundation, ao menos uma em cada quatro pessoas com OA, e com mais de 65 anos, tem diabetes 2. Estudos mostram que o aumento de açúcar no sangue, causado pela diabetes 2, tem um impacto direto na cartilagem, favorecendo o surgimento e a progressão da OA.

Além disso, o próprio Diabetes pode causar alterações nas articulações, causando sintomas como dor e rigidez, inchaço, formação de nódulos sob a pele, contratura de Dupuytren, tenossinovite, síndrome do túnel do carpo e outras neuropatias.

Sintomas, diagnóstico, controle e prevenção

Os sintomas principais do Diabetes são aumento da sede; aumento da micção; apetite maior; perda de peso, mesmo comendo mais; cansaço, fraqueza, tontura; visão embaçada; dificuldade de cicatrização de feridas. Mas algumas pessoas têm a doença por anos antes de perceberem os sintomas, principalmente no diabetes 2 porque os sintomas são mais “silenciosos” que no diabetes 1.

A Arthritis Foundation sugere, assim, que pessoas com mais de 45 anos façam exames de sangue a cada, no mínimo, 3 anos, principalmente aquelas que vivem com AR. Além dos exames específicos para glicose, é importante verificar os níveis de colesterol e outros fatores que contribuem para doenças cardíacas, uma vez que tanto a AR quanto o diabetes podem aumentar o risco de problemas cardíacos.

O controle do Diabetes e também da AR envolve (1) redução de peso (7-10% do peso corporal pode fazer uma grande diferença); (2) exercícios físicos feitos regularmente para promover a perda de peso, reduzir a inflamação, tanto no diabetes como na AR, e prevenir doenças cardíacas. É recomendável manter pelo menos 30 minutos por dia, cinco dias por semana. Caminhada rápida, natação ou ciclismo são boas opções. A Associação Americana de Diabetes também recomenda dois a três dias de treinamento com pesos para ajudar a reduzir os níveis de açúcar no sangue; (3) dieta balanceada e saudável, principalmente com carnes magras, frutas, vegetais frescos, grãos integrais e gorduras saudáveis, como o azeite. O aumento da diversidade bacteriana por meio da ingestão de alimentos que promovem o crescimento de boas bactérias como o iogurte e aqueles com muita fibra podem ajudar a reduzir a inflamação.

Em alguns casos, essas modificações podem ser suficientes, mas, em outros casos, será preciso o uso de medicamentos para ajudar o corpo a controlar o açúcar no sangue ou, ainda, o uso de insulina.