Artrites fúngicas

A Artrite fúngica é uma infecção nas articulações causada por fungos. Embora possa ocorrer em pessoas ditas saudáveis, é nos imunocomprometidos ou cronicamente doentes que se observa o aumento da frequência e da diversidade de fungos.

Nas últimas duas décadas, por exemplo, a frequência de artrites pelo fungo Candida (a candidíase) vem aumentando em pacientes hospitalizados e/ou cronicamente doentes, submetidos a múltiplas intervenções e ao uso prolongado de certos medicamentos antimicrobianos.

No caso dos imunocomprometidos, vêm sendo relatados casos de infecções e artrites fúngicas em pacientes em uso de medicamentos biológicos do tipo anti-TNF-alfa, sobretudo o infliximabe, mas casos de infecções em pessoas em uso de outros tipos de biológicos também são descritos, embora menos comuns. Dentre as infecções estão, principalmente, a coccidioidomicose (causada pelo fungo Coccidioides) e a histoplasmose (Histoplasma). Há casos descritos em pesquisas também de pneumocistose (Pneumocystis jiroveci), aspergilose (Aspergillus) e candidíase.

Em pessoas imunossuprimidas em geral, são também frequentemente observados outros fungos, como Cryptococcus (que causa a criptococose) e Fusarium (fusariose) e Mucorales (mucormicose ou fungo negro). Por isso, pacientes em uso de medicamentos biológicos e/ou pessoas que já tiveram infecções causadas por fungos devem ter muita atenção, pois pode ocorrer a reativação de antigas infecções.

Em pacientes saudáveis, apesar de existir alguma sobreposição de infecções, especialmente candidíase, as infecções coccidioidomicose, a paracoccidioidomicose (causada pelo fungo Paracoccidioidis), a blastomicose (Blastomyces) e a histoplasmose são os mais comuns, principalmente em em regiões endêmicas.


A grande maioria desses fungos é encontrada no solo, na vegetação e em material em decomposição (ex. fezes de aves, morcegos etc.) e a ocorrência da infecção se dá pela inalação dos esporos do fungo, principalmente em áreas rurais ou envolvidas em atividades agropecuárias, ecoturismo, caça etc.

Dependendo do organismo e do estado clínico do(a) paciente e, ainda, do local da infecção, as infecções fúngicas podem se apresentar com uma grande variedade de sintomas, como febre, calafrios, dor localizada, inchaço, vermelhidão e outros sinais típicos de inflamações. As inflamações são, geralmente, monoarticulares, ou seja, atingem apenas uma articulação mas, eventualmente, podem ser oligoarticulares, isto é, atingem até quatro articulações. Tem inicio insidioso, ou seja, começa "devagarzinho", e segue de forma subaguda ou crônica. Doença aguda é caracterizada por inicio súbito de evolução rápida e curta duração; já doença crônica apresenta uma progressão lenta e duração prolongada. A subaguda fica nesse meio termo. Todas as articulações podem ser afetadas, mas as de joelhos são as principais.

O diagnóstico consiste, em linhas gerais, em exames laboratoriais, tais como o exame micológico (que inclui a visualização direta e a cultura do fungo), o exame histopatológico (análise microscópica de um tecido) e exames de sangue e moleculares. Os fungos podem ser isolados de escarro, sangue, medula óssea, lavado brônquio-alveolar, líquor, tecido (pele, parênquima cerebral, osso, fígado, linfonodos, etc) e urina.

O tratamento das artrites fúngicas é longo, o ressurgimento da infecção é relativamente comum e o isolamento e identificação do fungo facilitam no tratamento, que é feito com uma série de medicamentos antifúngicos. Alguns desses medicamentos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e são oferecidos gratuitamente. Todo o tratamento e suporte necessários também são oferecidos de forma integral e gratuita pela rede pública de saúde.




Referências:

FILHO, José Carlos A.; ASSIS, Danyenne Rejane. Artrites fúngicas. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP): Manole, 2019, p. 411-417.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Micoses Endêmicas. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/m/micoses-endemicas-1/micoses-endemicas. Acesso: 29/07/22.