Proteína da saliva do mosquito da dengue tem potencial para tratar doenças inflamatórias intestinais

Um peptídeo, pequena proteína encontrada em maior quantidade na saliva de mosquitos fêmeas do Aedes aegypti (popularmente conhecido como "mosquito da dengue") mostrou-se eficiente para tratar Colite, uma doença inflamatória do intestino. Esse foi o resultado obtido em uma pesquisa liderada pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), também da USP, com o Instituto Butantan e com os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.

A administração de uma versão sintética desse peptídeo em camundongos doentes ajudou a reduzir:
  • a leucocitose, que é o aumento de leucócitos no sangue, que acontece quando há alguma infecção no organismo,
  • a atividade dos macrófagos - células de defesa do organismo do(a) doente,
  • a expressão de citocinas, que são substâncias que participam da inflamação e fazem a comunicação com componentes do sistema imunológico,
  • os níveis de óxido nítrico no intestino, o que resultou em uma melhora dos sinais clínicos. O óxido nítrico é um radical livre sintetizado por várias células do organismo, especialmente os macrófagos, e desempenha papel importante em doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn e Colite ulcerativa.
Nos últimos 30 anos, vários grupos de pesquisa vêm estudando a saliva do Aedes aegypti e já foi possível demonstrar o papel dela e de suas moléculas em reações alérgicas, agregação plaquetária, vasoconstrição e coagulação sanguínea. Mas até a conclusão dessa pesquisa, havia poucas informações sobre as atividades da saliva sobre a inflamação e a imunidade do(a) doente.

No futuro, dizem os pesquisadores, podemos pensar em propor essa molécula como potencial terapia, não somente para esta doença mas para outras doenças inflamatórias e autoimunes. Mas para que isso seja possível, ainda é necessário chegar a uma formulação farmacêutica viável e otimizar rotas de administração para, então, solicitar a patente do peptídeo.

A próxima etapa, agora, será a realização de ensaios pré-clínicos e clínicos e, para que isso aconteça, a equipe de pesquisadores ainda precisa firmar parcerias e captar verba para avançar para as próximas fases.