Fatores de risco para tuberculose: cuidados para os imunossuprimidos

Publicação original: 24/03/2021
Revisão: 13/11/2023


A tuberculose (TB) é tida como uma doença do passado, mas em 2021, segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 5.072 óbitos no Brasil em decorrência da doença e, em 2022, foram diagosticados pouco mais de 78 mil novos casos. No mundo todo, 1,6 milhão de vítimas morrem anualmente por conta da  doença e dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a TB está na lista das 10 doenças infecciosas de agente único que mais matam, superando o HIV.

A TB é causada pela bactéria Mycobacterium Tuberculosis, que afeta com maior frequência os pulmões, mas pode atingir qualquer parte do corpo, incluindo ossos e o sistema nervoso. Cerca de um quarto da população mundial tem a chamada TB latente, isto é, foram infectados pela bactéria mas, devido à capacidade de seu sistema imunológico (o sistema de defesa do organismo), não desenvolveram a doença, que fica "dormente" no organismo. 



Mas, se o sistema imunológico falha, o crescimento dessa bactéria não é combatido, o que resulta na TB ativa, que é grave, podendo levar à morte, além de ser contagiosa. Dentre as pessoas mais vulneráveis e propensas a progredir num quadro de tuberculose ativa estão aquelas expostas à doença em decorrência de onde vivem ou trabalham, as que têm acesso limitado a serviços qualificados de saúde ou aquelas com risco aumentado devido à fatores biológicos ou comportamentais que comprometem seu sistema imunológico:

Fonte: Global Plan to End TB: 2018-2022/Plano Global para Acabar com a TB: 2018-2022 (2019, p. 73)

Dentre essas populações-chave, algumas estão mais intimamente relacionadas às doenças reumáticas.

Segundo o Plano Global para Acabar com a TB: 2018-2022, os idosos, por exemplo, sobretudo aqueles com 65 anos ou mais, são mais vulneráveis à doença (e com maior risco da infecção se converter em TB ativa) porque a função do sistema imunológico diminui com a idade e porque muitos idosos não foram vacinados com a BCG, a vacina contra a TB. Acrescente-se a isso, ainda segundo o Plano Global, o uso de certos medicamentos tomados para doenças comuns em idosos, como alguns medicamentos imunossupressores**, que aumentam o risco de infecção por TB justamente por suprimirem o sistema imune contra determinadas doenças, como as reumáticas

Também as pessoas que vivem com HIV têm até 27 vezes mais probabilidade de desenvolver a doença, mas esse risco é significativamente mais baixo para aqueles que têm acesso ao tratamento do HIV. Entretanto, sabe-se que esse rastreamento é particularmente difícil porque, assim como as pessoas com TB, as pessoas que vivem com HIV estão frequentemente sujeitas ao estigma e à discriminação, o que pode impedi-las de acessar serviços qualificados de saúde.

Pessoas em uma categoria podem fazer parte de outros grupos, o que potencializa a exposição à TB: um trabalhador em minas pode viver em uma comunidade com pouco acesso a saúde qualificada ou um idoso pode ser também fumante e/ou ter diabetes. Estima-se, aliás, que o diagnóstico de 830 mil pessoas com TB em todo o mundo, em 2017, esteja relacionado ao tabagismo

Já dentre os diabéticos, especialistas estimam que essa população esteja entre as cerca de 15,3% de pessoas com TB ativa em todo o mundo. Enfraquecendo o sistema imunológico, o diabetes aumenta o risco de um indivíduo desenvolver TB de duas a três vezes. A associação entre essas doenças é de grande importância e preocupação, uma vez que as taxas de diabetes têm aumentando significativamente em muitos países.  

Por essas e outras razões, todos os fatores de risco para TB devem ser abordados de forma holística para maximizar os recursos. O desafio para o controle da doença está na demora no diagnóstico e no acesso limitado a serviços qualificados de saúde, o que traz complicações potencialmente fatais. 






Referências
GRAYLEY, Monica. Tuberculose mata 1,6 milhão de pessoas no mundo, diz OMS. UOL Notícias, 3o dez. 2017. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2017/10/30/tuberculose-mata-16-milhao-de-pessoas-no-mundo-diz-oms.htm. Acesso: 29/12/19.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Tuberculose: os desafios do tratamento contínuo. Disponível em: http://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45759-tuberculose-os-desafios-do-tratamento-continuo. Acesso: 30/12/19.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Boletim Epidemológico de Tuberculose, número especial, março 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2023/boletim-epidemiologico-de-tuberculose-numero-especial-mar.2023/view. Acesso: 13/11/2023

THE STOP TB PARTNERSHIP. Global Plan to End TB: 2018-2022: The Paradigm Shift. Global Health Campus: Geneva, Switzerland, 2019. Disponível em: http://www.stoptb.org/assets/documents/global/plan/GPR_2018-2022_Digital.pdf. Acesso: 24/02/2020.






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Segundo a Declaração Política da ONU sobre a luta contra a Tuberculose e explicitado pelo Plano Global para Acabar com a TB: 2018-2022. A Parceria Stop TB, que publica o Plano Global, é um órgão internacional único que tem por objetivo alinhar atores em todo o mundo na luta contra a tuberculose. Como parte de seus esforços, apelou à ação dos mais altos políticos mundiais, que se reuniram, em set/2018, na 1ª Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre Tuberculose. Na ocasião, os Estados-membros da ONU (representados por cerca de 50 Chefes de Estado e de governo) assinaram a Declaração Política da ONU, onde reconhecem a TB como importante problema de saúde pública e se comprometem a implementar ações e a mobilizar recursos financeiros para o enfrentamento da epidemia.
** Medicamentos imunossupressores, os chamados DMARD's biológicos anti-TNF. Leia mais aqui: https://www.precisamosfalar.blog.br/2020/07/fator-necrose-tumoral.html