Identificados genes alterados em pessoas com doença de Crohn

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Hospital das Clínicas de Barcelona, na Espanha, identificaram um conjunto de genes cuja atividade está alterada no intestino de pacientes com a doença de Crohn, síndrome que afeta o sistema digestivo [leia mais sobre a doença aqui]. Essa descoberta pode levar a uma melhor compreensão da enfermidade e a formas mais eficientes de previsão e tratamento.

Uma das características da doença é o aumento do chamado tecido adiposo mesenterial, "dobras" que ficam próximas às alças intestinais. Nos pacientes com Crohn, tais dobras apresentam-se constantemente inflamadas, gerando diarreias nos casos mais leves, perfuração ou obstrução intestinal nos casos mais graves, demandando cirurgia.

“Não se sabe exatamente se o tecido adiposo mesenterial mais espesso é causa ou consequência da doença, mas identificamos que ele tem células imunes de memória. Elas podem deflagrar uma recorrência da doença mediante algum estímulo ou mesmo aumentar o processo inflamatório”, diz a professora Raquel Franco Leal, pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e coordenadora do estudo. Sua equipe sequenciou o RNA de amostras desse tecido e também do íleo – parte final do intestino delgado – de dois grupos de pacientes. Um deles foi operado por conta da doença de Crohn. O outro grupo, que funcionou como controle, passou por cirurgias referentes a outras condições não relacionadas a doenças inflamatórias.

“Com o sequenciamento, pudemos estudar quais vias imunológicas foram mais ativadas pela doença. Observamos então que a principal assinatura da síndrome é a presença de plasmócitos, que são células de defesa produtoras de anticorpos”, diz a pesquisadora.

Os pesquisadores planejam continuar monitorando os pacientes que tiveram os tecidos analisados, visando correlacionar a evolução da doença nos próximos anos com o conjunto de genes alterados em cada um. Espera-se, assim, entender como ocorrem as formas mais graves da doença e, futuramente, prever quais desses pacientes podem ter pior evolução no pós-operatório ou recaída.

Além disso, poderão ser prescritos tratamentos mais direcionados para o perfil do paciente. Por ser uma doença imunomediada, muitos pacientes tomam medicamentos que diminuem a atividade do sistema imune – uma preocupação, por exemplo, nesses tempos de pandemia de COVID-19. [Leia o artigo completo aqui]




Fonte: JULIÃO, André. Identificados genes alterados em pessoas com doença de Crohn. In: AGÊNCIA FAPESP, 19 ago. 2020. Disponível em: https://agencia.fapesp.br/identificados-genes-alterados-em-pessoas-com-doenca-de-crohn/33916/. Acesso: 03/09/2020.