Fibromialgia e depressão

A Fibromialgia é uma síndrome que se manifesta, principalmente, com dores por todo o corpo. Junto com essa dor, surgem sintomas como fadiga (cansaço), distúrbios do sono, problemas de memória e concentração, formigamentos/dormências, dores de cabeça, tontura e alterações intestinais e urinárias. Uma característica do(a) portador(a) de Fibromialgia é a grande sensibilidade ao toque e à compressão de pontos pelo corpo. 

As causas da síndrome são multifatoriais e têm influência hereditária, emocional e ambiental. A principal hipótese, baseada em estudos científicos na área da neurociência, tem a ver com o chamado fator ‘estresse crônico diário’ e, principalmente, com a forma como reagimos ao estresse emocional, o que desencadeia uma neuroplasticidade cerebral (mudança nas conexões dos neurônios), esclarece Levi Jales Neto, reumatologista da Rede de Hospitais São Camilo SP. O quadro clínico reduz neurotransmissores como a serotonina, noradrenalina e dopamina, causando uma queda nos limiares de dor nessas pessoas, tornando-as mais sensíveis aos estímulos dolorosos (Estadão, 2022).

Por se tratar de uma síndrome em que não existe lesão de tecidos, isto é, que não apresenta inflamação ou degeneração "visíveis", e, ainda que não existem exames laboratoriais específicos para Fibromialgia, é muito difícil de se obter um diagnóstico correto. Na prática clínica, portanto, não há como comprovar que uma pessoa está sentindo a dor que diz sentir e isso faz com que parentes e amigos, e até mesmo profissionais de saúde, tenham dúvidas se os sintomas são reais ou não, o que gera muito preconceito e humilhação aos portadores de Fibromialgia.

Esse descrédito social, aliado às dores diárias e à demora para obter um tratamento adequado e efetivo pode levar esses pacientes à depressão e aos transtornos de ansiedade, outros dois sintomas muito comuns na Fibromialgia. A depressão, por exemplo, pode estar presente em até 50% dos pacientes. Segundo o reumatologista e coordenador da Comissão de Dor, Fibromialgia e outras Síndromes de Partes Moles da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Dr. José Eduardo Martinez, há, de fato, uma relação entre as doenças: a "dor crônica leva à depressão e a depressão leva à dor crônica. Hoje a gente considera a depressão como fator agravante de quem tem Fibromialgia” (Felizola, 2017).

Segundo a psicóloga Magda Pearson, coordenadora da Psicologia da Liga de Dor da Faculdade de Medicina da USP e colaboradora do Grupo de Dor do HC-FMUSP, os cuidados de saúde mental na Fibromialgia "são essenciais porque o sofrimento psíquico destas pessoas é solitário, profundo e tende a agravar-se ao longo do tempo". A ajuda pode ser obtida com profissionais de saúde mental especializados em dor, por meio de programas específicos realizados em hospitais escola e clínicas psicológicas escola e, ainda, com o apoio de grupos que têm surgido espontaneamente, geralmente por iniciativa dos próprios pacientes.






Referências:


FELIZOLA, Ana Cláudia. Fibromialgia: os desafios de uma doença invisível. Blog da Saúde - Ministério da Saúde. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php/materias-especiais/52386-fibromialgia-os-desafios-de-uma-doenca-invisivel. Acesso: 06/11/19.

CONTEÚDO ESTADÃO. Fibromialgia e o lado emocional : como a saúde mental influencia os sintomas. IstoÉ Independente (istoe.com.br). Disponível em: http://istoe.com.br/fibromialgia-e-o-lado-emocional-como-a-saude-mental-influencia-os-sintomas/ . Acesso: 02/09/22.

SELLA, Ana Luísa Berti Guimarães. Fibromialgia: conhecimento também faz parte do tratamento! Revista Saúde. Disponível em: http://rsaude.com.br/londrina/materia/fibromialgia-conhecimento-tambem-faz-parte-do-tratamento/12117. Acesso: 06/11/19.