Artrite Reativa (Síndrome de Reiter)

As Espondiloartrites (ou Espondiloartropatias Soronegativas) englobam várias doenças reumáticas inflamatórias, entre elas, Artrite Psoriásica, Espondiloartropatias indiferenciadas, Espondilite Anquilosante e Artrite Reativa, sobre a qual falaremos aqui. 

O que é? Quem pode ser afetado(a)?

A Artrite Reativa (ARe), anteriormente chamada de Síndrome de Reiter, é uma forma de artrite que se desenvolve após ou durante uma infecção bacteriana que ocorre no trato intestinal ou no urogenital, em geral por doenças sexualmente transmissíveis. Afeta, especialmente, homens entre 20 e 50 anos.

O que causa a doença?

As bactérias comumente associadas à Artrite Reativa são Chlamydia trachomatis (responsável pela clamídia, doença sexualmente transmissível); Chlamydia pneumoniae (responsável por infecções no trato respiratório); Yersinia enterocolitica, Salmonella typhimurium, Shigella flexneri e sonnei, Campilobacter jejuni, fetus e lariClostridium difficile e Escherichia coli (responsáveis por infecções gastrointestinais).

Não se sabe, exatamente, porque algumas pessoas expostas a essas bactérias desenvolvem a doença, mas sabe-se que há um fator genético envolvido, o antígeno humano HLA-B27, presente em cerca de 30 a 50% dos casos de ARe. Esse antígeno desencadeia uma reação imunológica contra o "invasor", a bactéria, e acaba por desencadear uma reação inflamatória, que se perpetua mesmo após a cura da infecção. A presença de HLA-B27 é um marcador de risco para ARe e também de risco para acometimento do esqueleto axial e de maior agressividade da doença.

Quais os sintomas?

A ARe pode afetar diferentes partes do corpo, com uma grande variedade de sinais e sintomas que, via de regra, surgem de 1 a 4 semanas após a infecção e variam desde sintomas gerais, como mal-estar geral, febre baixa e cansaço, a manifestações mais específicas, tais como: 
  • Manifestações urogenitais: a mais comum é uma queimação ou ardor ao urinar (uretrite). Homens podem ter uma necessidade maior para urinar e sensação de queimação no pênis. Alguns podem desenvolver uma inflamação na próstata (prostatite). Mulheres podem apresentar inflamações do colo do útero (cervicite), inflamação das trompas de falópio (salpingite) ou inflamação da vulva e da vagina (vulvovagintis), condições que, às vezes, não causam sintomas.
  • Manifestações gastrointestinais: o acometimento infeccioso intestinal, como já dito, é um dos fatores de risco para a ARe. É comum o(a) paciente ter sintoma intestinal leve, que ocorre antes do surgimento da doença.
  • Manifestações articulares: a ARe, de modo geral, apresenta-se na forma de oligoartrite (de 2 a 4 articulações), afetando, de modo geral, um ou os dois joelhos, tornozelos e/ou pés. Pode atingir também a coluna vertebral em qualquer segmento e a articulação sacroilíaca (na junção do osso da coluna com o osso da bacia). Pessoas com a doença geralmente apresentam inflamação onde os tendões se conectam com os ossos (entesite), o que pode resultar em dor no calcanhar e espessamento dos dedos, e também inflamação nos dedos (dactilite ou dedo em salsicha).

  • Manifestações oculares: a conjuntivite, que é uma inflamação da membrana que recobre os olhos e as pálpebras, é a alteração mais frequente, mas algumas pessoas podem ter também uveíte, que é inflamação interna do olho. Essas duas manifestações podem causar vermelhidão, dor e irritação nos olhos, além de visão turva. Os olhos são geralmente afetados no início da doença e os sintomas podem aparecer e desaparecer.
  • Manifestações na pele: feridas ou pequenas úlceras (balanite circinada) superficiais e indolores ou lesões no final do pênis; pequenas erupções cutâneas duras ou nódulos nas solas dos pés ou, embora menos frequente, também nas palmas das mãos (ceratodermia blenorrágica); úlceras na boca, mas que não causam dor.
  • Outras manifestações
    • Coração: nas válvulas cardíacas; vazamento de sangue da aorta para o ventrículo (regurgitação aórtica); inflamação da membrana que cobre e protege o coração (pericardite). 
    • Rins: inflamação do glomérulo (glomerulonefrite), unidade funcional do rim formada por um emaranhado de capilares, onde ocorrem a filtragem do sangue e a formação da urina.

Na maioria das pessoas, os sintomas iniciais da ARe desaparecem em três ou quatro meses, mas 30 a 50% das pessoas têm inflamação das articulações recorrente ou outros sintomas ao longo de vários anos.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é, basicamente, clínico, ou seja, baseia-se no histórico do paciente, principalmente em relação a infecções e exposição sexual, e em exames físicos para avaliar a presença de dor e inchaço nas articulações, dor na coluna vertebral, sintomas urogenitais e abdominais ou outras manifestações típicas da doença, como dactilite ou entesite.

Exames laboratoriais são úteis para a identificação de bactérias nos casos de infecções. Alterações em exames como VHS ou PCR refletem o processo inflamatório sistêmico. Hemograma pode apontar para algum grau de anemia, leucocitose (aumento de glóbulos brancos) e trombocitose (aumento do número de plaquetas). O médico pode, ainda, solicitar um teste para identificação do gene HLA-B27, bastante relevante  nas espondiloartrites.

Qual o tratamento?

O tratamento para a ARe dependerá do estágio da doença, mas quanto mais cedo for iniciado maiores serão as chances de um bom prognóstico. No estágio inicial, tendo sido identificado um agente infeccioso causador da doença, será necessário tratamento com antibióticos para erradicação do agente desencadeador da doença. Parece haver um consenso médico quanto à utilização de Doxiciclina ou Azitromicina para o tratamento de infecção por Chlamydia (ofloxacino e levofloxacino podem ser considerados).

Em relação à artrite, são utilizados, comumente, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) para controlar o inchaço e a dor das articulações. A escolha do AINE estará condicionada à preferência do médico e, se houver, à experiência prévia do/a paciente com determinado medicamento.

Os corticosteroides, de modo geral, não são utilizados como primeira escolha, mas em alguns casos, como articulações altamente inflamadas, pode haver a necessidade de introduzir medicamentos por via oral ou por injeções intra-articulares. Para os casos de inflamação ocular, pode-se utilizar colírios com corticoides.

No estágio crônico da doença podem ser necessárias drogas sintéticas modificadores de doenças (sDMARD), geralmente Sulfassalazina ou Metotrexato. A Sulfassalazina parece ser mais útil em casos de artrite periférica e para prevenção da uveíte.

Já a indicação de medicamentos biológicos antirreumáticos modificadores da doença (bDMARD) parece não estar plenamente estabelecida.



Referências

AMERICAN COLLEGE OF RHEUMATOLOGY. Reactive Arthritis. Disponível em: http://www.rheumatology.org/I-Am-A/Patient-Caregiver/Diseases-Conditions/Reactive-Arthritis. Acesso: 07/11/19.

ARTHRITIS FOUNDATION. Artritis reactiva. Disponível em: http://espanol.arthritis.org/espanol/disease-center/artritis-reactiva-reiter/. Acesso: 07/11/19.

CHIEREGHIN, Adriano; XIMENES, Antonio Carlos; KEISERMAN, Mauro. Artrite reativa. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP), Manole, 2019, p. 185-189.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Espondiloartrites. Disponível em: http://www.reumatologia.org.br/doencas-reumaticas/espondiloartrites/. Acesso: 07/11/19.

SOCIEDADE PORTUGUESA DE REUMATOLOGIA. Artrite Reactiva. Disponível em: http://www.spreumatologia.pt/doencas/artrite-reactiva. Acesso: 07/11/19.