Gota

Algumas pessoas produzem muito ácido úrico no corpo e não conseguem eliminá-lo adequadamente pelos rins. Então, esse ácido aparece em alta concentração no sangue, contribuindo para o surgimento da Gota, uma das formas mais comuns de doença articular inflamatória. 

O que é?

É uma doença inflamatória decorrente da formação de cristais urato, que se depositam (na forma de tofos) nas articulações e em outros tecidos causando surtos dolorosos de artrite aguda, especialmente nos membros inferiores (joelhos, tornozelos, calcanhares e dedos do pé). É uma doença potencialmente incapacitante.


Quem pode ser afetado(a)?

A maioria dos portadores de Gota é do sexo masculino: cerca de 9 homens cada mulher afetada pela doença, com maior incidência entre 30 e 60 anos. Após os 65 anos, a proporção chega a 3 homens para cada mulher acometida.

No sexo feminino, a maior incidência situa-se entre 55 e 70 anos, ou seja, no período da menopausa.

O que causa a doença?

Os cristais de urato são formados a partir do aumento da taxa de ácido úrico no organismo, condição chamada de hiperuricemia

O ácido úrico é uma substância naturalmente produzida pelo organismo, resultado da quebra de moléculas de purina (proteína contida em muitos alimentos) a partir da ação de uma enzima chamada xantina oxidase. Depois de utilizadas, as purinas são degradadas e transformadas em ácido úrico; parte desse ácido permanece no sangue e o restante é eliminado pelos rins na urina. Entretanto, em determinadas pessoas, a partir de sua predisposição genética, os níveis de ácido úrico podem ficar altos em razão de "falha" na eliminação ou pela produção de urato em excesso, pela interferência de certos medicamentos (como diuréticos, ácido acetilsalicílico e alguns imunossupressores) e, até mesmo, pelo aumento no consumo de certos alimentos.

A Gota é, então, determinada pela interação entre fatores genéticos e ambientais.

Quais os sintomas?

Como dissemos, a consequência da taxa de ácido úrico elevada é a formação de pequenos cristais de urato de sódio, que se depositam em vários locais do corpo, de preferência nas articulações, mas também nos rins, sob a pele ou em qualquer outra região do corpo.

A Gota articular costuma afetar pacientes masculinos, na forma de artrites agudas esporádicas e afetando, preferencialmente as articulações do dedão dos pés.

Esses episódios de artrites agudas costumam evoluir rapidamente para dor intensa e inchaço local, mas podem desaparecer de forma espontânea após alguns dias. A partir daí, de modo geral, segue-se um período sem sintomas, que pode durar meses.

Após essa fase, entretanto, se a doença não for controlada com medicação adequada, podem ocorrer episódios mais frequentes e com duração mais prolongada, que vão levar a um quadro crônico e progressivo da doença, podendo mesmo lesar e causar deformidades na(s) articulação(ões) afetada(s).

Nos rins, a hiperuricemia é responsável pela formação de cálculos renais (litíase renal) e por insuficiência renal aguda ou crônica (nefropatia úrica).

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico de Gota é feito, sobretudo, após o histórico clínico do paciente, principalmente se o dedão do pé for afetado, associado a exames de sangue (VHS e PCR) e/ou de urina para avaliar a taxa de ácido úrico. Mas o diagnóstico definitivo é dado a partir da punção com agulha do líquido interno à articulação (líquido sinovial) para análise da presença de cristais em forma de agulha, que são típicos do urato monossódico.

Outros exames podem ser solicitados, como a ultrassonografia, cada vez mais utilizada no diagnóstico inicial, e a radiografia, para mostrar danos às articulações a partir da evolução da doença.

Qual o tratamento?

Para o tratamento de uma crise aguda de Gota, o(a) paciente deve iniciar a medicação o mais rapidamente possível. As drogas de primeira linha indicadas, via de regra, são os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), a colchicina (até 36 horas do início da crise, de preferência nas primeiras 12 horas) e os corticosteroides (por via oral, intramuscular ou intra-articular), os quais podem ser usados isoladamente ou em combinações entre eles, a depender das contraindicações, tais como:

  • contraindicações aos AINES: úlcera gástrica ou duodenal, pressão alta, alergia, tratamento com anticoagulantes.
  • contraindicações à colchicina: uso concomitante de medicamentos inibidores do citocromo P450 ou da P-GP (ex.: ciclosporina, amiodarona, quinidina, verapamil, eritromicina, claritromicina); presença de disfunção hepática ou renal importantes.
  • contraindicações aos corticosteroides: insuficiência cardíaca descompensada, pressão alta mal controlada ou intolerância à glicose.

Na prática, um AINE, associado ou não à colchicina, tem sido a opção mais empregada. 

Repouso e compressas de gelo no local da inflamação são medidas coadjuvantes que podem ajudar no processo inflamatório.

Para a prevenção de novas crises agudas de Gota, a colchicina tem sido o medicamento de escolha dos médicos mas, quando não é bem tolerada pelo(a) paciente ou quando seu uso é contraindicado, costuma-se prescrever um AINE ou um corticosteroide (prednisona ou predinisolona).

O controle da hiperuricemia é também uma forma de prevenir novas crises. Para pacientes que já fazem uso de medicações uricorredutoras, os médicos recomendam manter a dose estável durante uma crise mas, de modo geral, essa medicação só deve ser introduzida após o controle completo de uma crise.

A indicação para o uso dessas medicações envolve pacientes com duas ou mais crises ao ano, que apresentem tofos, dano articular, comorbidades (pressão alta, cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca) e/ou nefrolitíase (presença ou formação de cálculos nos rins) e nefropatia por urato.

Além do tratamento medicamentoso, deve-se controlar a dieta: 
  • aumentando a ingestão de líquidos para otimizar o fluxo urinário e, assim, evitar acúmulo de ácido úrico; 
  • evitando o consumo de frutos do mar, sardinha, miúdos (rim e fígado), excesso de carne vermelha e pele de aves, sobretudo quando os níveis de ácido úrico estiverem altos para não desencadear uma crise. 
  • evitando consumir de bebidas alcoólicas; 
  • evitando uma dieta hipercalórica, pois leva à obesidade, o que pode sobrecarregar as articulações inflamadas. 



Referências

AMERICAN COLLEGE OF RHEUMATOLOGY. Gout. Disponível em: http://www.rheumatology.org/I-Am-A/Patient-Caregiver/Diseases-Conditions/Gout. Acesso: 06/10/19.

ARTHRITIS FOUNDATION. Gota. Disponível em: http://espanol.arthritis.org/espanol/disease-center/gota/. Acesso: 05/10/19.

FULLER, Ricardo. Gota. In: Reumato USP. Disponível em: http://www.reumatousp.med.br/para-pacientes.php?id=31414056&idSecao=18294311. Acesso: 06/10/19.

PINHEIRO, Geraldo R.C; FULLER, Ricardo; BERND, Robertp. Gota. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP), Manole, 2019, p. 376-380.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Gota. Disponível em: http://www.reumatologia.org.br/doencas-reumaticas/gota/. Acesso: 05/10/19.

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