Fibromialgia

A Fibromialgia (FM) é uma doença bastante frequente. No Brasil está presente em cerca de 2% a 3% das pessoas.

O que é?

É uma síndrome dolorosa, caracterizada por dor muscular generalizada e crônica (com duração maior que três meses), mas sem processo inflamatório. 

Trata-se de uma doença silenciosa, de difícil diagnóstico, tida, muitas vezes, como um transtorno psicológico, uma vez que não deixa lesões aparentes no corpo. 

Entretanto, nas últimas décadas, com técnicas de pesquisa avançada, houve um maior entendimento da doença, ocasião em que foi possível um maior entendimento do envolvimento genético, dos pontos de gatilho, das disfunções do sistema hormonal e do sistema nervoso central

Qual a causa?

A principal hipótese é que pacientes com FM apresentem uma alteração no funcionamento do sistema nervoso central (SNC), ou seja, parece haver uma resposta anormal e inadequada a certos estímulos externos, ou "gatilhos", o que acaba por gerar uma dor desproporcional. Dentre os "gatilhos", podem ser citados, por exemplo, o calor, a estimulação elétrica na pele ou sinais auditivos.

A alteração no funcionamento do SNC inicia-se já na infância e na adolescência, o que sugere também um forte componente genético. Estudos sugerem que gêmeos têm 50% de chance de desenvolver FM e um familiar de primeiro grau de um paciente com FM tem quase 10% de chance de também ter a doença.

Quem é afetado(a)?

A doença atinge, em 90% dos casos, mulheres entre 25 e 65 anos, mas também pode ocorrer em crianças, adolescentes e idosos. Pessoas com doenças crônicas têm se mostrado com maior prevalência de FM.

Quais os sintomas?

O principal sintoma da FM é a dor generalizada e difusa, como dor abaixo e acima da cintura, nos lados direito e esquerdo do corpo e em pelo menos um segmento da coluna vertebral. Essa dor pode vir na forma de queimação, pontada, sensação de peso... É muito comum também que o(a)s pacientes sintam dificuldade para definir onde está a dor e muitos se referem a ela como sendo nos ossos, nas “juntas”, nos músculos. Citam uma dor espontânea, mas também ao toque, ou seja, o portador de FM muitas vezes não pode ser abraçado ou mesmo acariciado.

Outro sintoma típico é a "dor de cansaço", logo pela manhã. O(A) paciente sente-se pior do que quando se deitou, mas a dor e o cansaço permanecem durante todo o dia. Muitas vezes, queixa-se também de insônia ou sono não reparador, isto é, quando a pessoa acorda cansada, com a sensação de que não dormiu.

Fadiga é outro sintoma muito frequente, causando sensação de exaustão fácil e dificuldade para realização de tarefas do dia-a-dia. 

Pode haver também sintomas cognitivos, tais como problemas com a memória, a concentração, a análise lógica e a motivação.

Por fim, podem ocorrer, ainda, enxaqueca, dores ou cólicas abdominais, além de alterações de humor, como ansiedade, depressão, transtornos obsessivos-compulsivos (TOC) e síndrome do pânico, problemas esses diretamente relacionados aos quadros de dor e fadiga.  

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico de FM é clínico, baseado em critérios definidos pelo Colégio Americano de Reumatologia. Nesses critérios (2010/2011 e, depois, 2016), eliminou-se a contagem de pontos de gatilho e criou-se dois índices, o índice de dor generalizada (IDG) e a escala de gravidade dos sintomas (ESG), além da necessidade da presença de dor difusa. 

No IDG, são assinaladas 19 possíveis regiões em que o/a paciente sente dor (obs: cada lado do corpo é uma contagem): mandíbula (esquerda e/ou direita); ombro (esquerdo e/ou direito); braço (esquerdo e/ou direito); antebraço (esquerdo e/ou direito); quadril (esquerdo e/ou direito); coxa (esquerdo e/ou direito); perna (esquerdo e/ou direito); região cervical, região dorsal; tórax; lombar; abdome.

Na ESG, a gravidade dos sintomas de fadiga, sono não reparador e distúrbios cognitivos é graduada de 0 a 3, onde 0 é sintoma ausente, 1 é leve, 2 é moderado e 3 é grave. Já o número de sintomas entre dor abdominal, cefaleia e depressão é estabelecido de 0 (ausente) a 1 (presente).

O diagnóstico de Fibromialgia é sugerido quando o IDG é maior ou igual a 7, associado à ESG maior ou igual a 5 OU IDG entre 4 e 4 e ESG maior ou igual a 9.

Qual o tratamento?

A estratégia para o tratamento da FM envolve uma abordagem multidisciplinar, com a combinação de tratamentos não-medicamentosos e medicamentosos. A dor crônica é um estado de saúde persistente, portanto, o objetivo do tratamento é o controle e não a eliminação.

Dentre as estratégias não-medicamentosas, incluem-se educação sobre a doença, isto é, sobre seus sintomas, os "gatilhos", os objetivos e etapas do tratamento, a necessidade da participação ativa do(a) paciente. O tratamento deve ser elaborado em discussão com esse(a) paciente, de acordo com a intensidade da sua dor, funcionalidade e suas características.

Terapias psicológicas são também importantes no combate ao estresse, à ansiedade e à depressão. Modalidades como terapia cognitiva-comportamental, técnicas de meditação, hipnose, terapia do espelho, entre outras, têm sido utilizadas.

Mas são os exercícios físicos regulares, sobretudo os aeróbicos, que têm se mostrado a intervenção mais importante e efetiva no tratamento da doença, com impactos positivos na melhora da dor, da depressão, da ansiedade, do sono, da fadiga, enfim, da qualidade de vida. O(A) paciente com FM deve começar com uma atividade leve e progredir lentamente.

O tratamento medicamentoso envolve fármacos antidepressivos que atuam também para o alívio da dor e para a melhora da qualidade do sono e da fadiga. Na outra ponta, há também os medicamentos pregabalina e tramadol, que atuam na redução do estímulo doloroso e, assim, melhoram também a fadiga e o sono. O uso de anti-inflamatórios AINEs isoladamente parece não ter apresentado grandes efeitos, mas podem ser importantes para o tratamento dos geradores periféricos de dor e também para os sintomas musculoesqueléticos relacionados à doença.

Outros medicamentos têm sido estudados, mas ainda sem grandes evidências científicas, como tizanida, alprazolam, quetiapina e trazodona.

Além disso, com a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, foram institucionalizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) a homeopatia, as plantas medicinais e fitoterápicos, a medicina tradicional chinesa/acupuntura e o termalismo social-crenoterapia. Essas terapias, associadas aos tratamentos convencionais, podem ajudar a minimizar os efeitos colaterais, trazendo maior qualidade de vida ao paciente durante o tratamento e ajudando-o a apresentar resultados positivos.









Referências


BRUNA, Maria Helena Varella. Fibromialgia. Portal Drauzio Varella. Disponível em: http://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/fibromialgia/. Acesso: 05/10/19.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Fibromialgia: os desafios de uma doença invisível. Blog da Saúde. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php/materias-especiais/52386-fibromialgia-os-desafios-de-uma-doenca-invisivel. Acesso: 05/10/19.

PAIVA, Eduardo S.; MARTINEZ, José Eduardo; PROVENZA, José Eduardo. Fibromialgia. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP), Manole, 2019, p. 566-573.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Fibromialgia. Disponível em:http://www.reumatologia.org.br/doencas-reumaticas/fibromialgia-e-doencas-articulares-inflamatorias/. Acesso: 05/10/19.