Cervicalgias

As dores na região cervical são queixas muito frequentes. Podem afetar pessoas jovens, mas é mais frequente em adultos e idosos visto que, dentre as diversas causas da dor cervical, aquelas associadas a condições degenerativas da coluna são as mais comuns.


O que é?

O termo grego “algia” está relacionado à dor, portanto, Cervicalgia é considerada uma afecção caracterizada por dor* que incide na coluna cervical, principalmente na região da nuca. 

* A dor cervical pode ser classificada como: aguda (duração menor que 6 semanas), subaguda (duração entre 6 e 12 semanas) ou crônica (duração maior do que 12 semanas).

Na maioria dos casos essa dor some espontaneamente, ou seja, o episódio agudo de dor passa com o tempo; no entanto, alguns casos podem se tornar crônicos.

É uma enfermidade bastante comum nos dias atuais, devido aos vários fatores presentes no estilo de vida contemporâneo, por isso atinge sobretudo pessoas na idade adulta, de ambos os sexos, embora os dados epidemiológicos apontem que a Cervicalgia acomete mais mulheres que homens, na proporção de 43% e 30%, respectivamente. 

A Cervicalgia está entre as causas mais recorrentes de faltas ao trabalho pois, embora seja uma circunstância passageira, é altamente incapacitante, podendo ser considerada uma doença relacionada ao trabalho de acordo com o caso.


Causas

Diversas podem ser as causas da Cervicalgia:
  • Má postura: seja ela anatômica ou por maus hábitos, a má postura gera sobrecarga nos músculos cervicais. Tais hábitos incluem o uso de celular com a cabeça baixa, sentar-se de forma "torta" (ou não ereta), assistir televisão ou computador muito acima ou muito abaixo do nível dos olhos ...
  • Posição inadequada para dormir: a região cervical permanece mal posicionada por tempo prolongado, com desequilíbrio da musculatura do trapézio e paravertebral profundo, que podem ficar sobrecarregados e gerar dor miofascial.
  • Estresse: fatores emocionais e psicossomáticos, em geral, estão muito associados à causa da Cervicalgia em razão da tensão causada, por isso, é preciso identificar o fator estressante, como pressão no trabalho, luto, divórcio, problemas financeiros.
  • Depressão: este distúrbio psicológico pode ocasionar diversos episódios de Cervicalgia, pois ocorre alteração em diversos níveis, além disso, a pessoa deprimida costuma permanecer muito tempo deitada, inativa e cabisbaixa.
  • Bruxismo: esta condição pode desencadear a cervicalgia devido à pressão que o bruxismo causa nos músculos adjacentes à mandíbula, ou seja, afeta a região cervical diretamente.
  • Doenças reumáticas: Artrose e Osteoporose podem estar ligadas ao desenvolvimento de dores na cervical.
  • Hérnia de disco: degeneração no disco intervertebral, geralmente ocasionado com o envelhecimento desta estrutura e pode estar relacionado à cervicalgia, pois a alteração discal influencia na anatomia normal das vértebras, modificando a curvatura correta da cervical.
  • Esforços repetitivos: serviços ou atividades que sobrecarreguem os músculos do pescoço são capazes de causar tensionamento na região cervical.
  • Fator neurológico: pode haver compressão de uma raiz nervosa, porém este fator e mais raro, sendo encontrado em cerca de 1% dos casos.
  • Falta de ergonomia no trabalho: ergonomia consiste na condição adequada de trabalho que promova conservação da saúde e da segurança do trabalhador, de forma que a estação de trabalho, a posição do computador, a cadeira e o modo de manipulação de objetos podem desencadear dores na cervical, bem como o estresse causado no ambiente de trabalho.
  • Traumas: acidentes, pancada ou queda que tenha afetado a cervical pode desencadear quadro crônico de cervicalgia.

Acrescenta-se, ainda, que alguns fatores de risco podem contribuir com a predisposição do indivíduo a desenvolver Cervicalgia, por exemplo o tabagismo, que contribui com o envelhecimento dos discos intervertebrais; a obesidade, que está relacionada à sobrecarga no sistema musculoesquelético; a idade que é também um fator de risco no que se refere à piora da postura e ao envelhecimento dos discos intervertebrais. Além disso, é comum que a pessoa idosa passe a permanecer mais tempo em casa e na cama, com sedentarismo e redução das tarefas.

Geralmente, a anatomia da coluna cervical permite bastante flexibilidade e movimento em circunstâncias normais. Isso, no entanto, também permite uma vulnerabilidade a várias forças físicas. Frequentemente, sujeitamos nossa coluna cervical a posições incomuns enquanto sentamos, dirigimos e usamos o telefone ou o computador. Esse alto nível de mobilidade também incentiva alterações degenerativas prematuras devido a abuso e uso excessivo. Certos problemas são pequenos e de vida curta, outros mais incapacitantes, persistentes e ameaçadores.

Quase todo mundo sofre de algum tipo de Cervicalgia de vez em quando.

Sintomas da cervicalgia

O paciente acometido com Cervicalgia relata dor, rigidez, adormecimento da região afetada, dificuldade e limitação de movimento. O paciente também costuma adotar uma atitude de defesa da região acometida, ou seja, evitando movimentos e posições que intensifiquem a dor.

É importante no exame avaliar as características da dor, limitações e amplitude de movimento cervical, além de avaliar manobras deficitárias e causadoras da dor.

Além da anamnese e descrição da sintomatologia, podem ser solicitados exames de imagem, para afastar possíveis causas secundárias, como radiculopatias por hérnia de disco ou estenose cervical, além de possíveis fraturas, infecções ou tumores.

Diagnóstico 

A avaliação inicial do paciente com Cervicalgia requer que o reumatologista considere dados como a profissão, a localização da dor, a intensidade, a presença de dor na extremidade, se há ou não sintomas neurológicos, presença de cefaleia, febre, calafrios, perda de peso, antecedente de trauma e fatores que possam intensificar a dor.

Os exames laboratoriais não são indicados como rotina para avaliação das Cervicalgias, mas são indicados quando há suspeita de causa não cervical para a dor. Já os exames de imagem são indicados, em uma primeira avaliação, para os casos em que o/a paciente tem mais de 50 anos e apresenta dor de início recente; quando há dor de moderada a grave por mais de seis semanas; achados neurológicos ao exame físico; para pacientes com risco de infecção (p. ex., usuários de drogas e imunossuprimidos) e naqueles com antecedente de malignidade.

Tratamento

A maioria dos pacientes com Cervicalgia, independentemente da causa da dor, melhora com tratamento conservador. Não existe uma forma de tratamento nitidamente superior à outra. O tratamento deve ser individualizado, ajustado de acordo com as características da dor e alterado caso haja evidência de comprometimento neurológico.


O tratamento inicial deve contemplar a educação do/a paciente, informações sobre a evolução da doença, salientando a importância do condicionamento físico e da correta ergonomia nas atividades diárias e laborativas. O/A paciente deve ser informado/a das frequentes alterações nos exames de imagem e sua pobre relação com sintomas, adequando os custos e auxiliando uma evolução favorável.


Os objetivos principais e mais urgentes do tratamento são a redução da dor, da sensibilização e espasmo da musculatura e da restituição funcional.


Assim que o diagnóstico indicar a circunstância do quadro clínico, é possível direcionar o tratamento, pois as intervenções dependem da gravidade, da idade do paciente, se há fator neurológico e se há lesões mais graves.

No entanto, em todos os casos, o tratamento inicial da Cervicalgia envolve o repouso relativo, o que não significa permanecer no leito, mas sim evitar esforço e uso da musculatura afetada.

Além disso, faz parte do tratamento conservador a modificação de posturas inadequadas, o que envolve também a aquisição de travesseiros e colchão adequados, atividade física de fortalecimento e alongamento e a busca por ergonomia no ambiente de trabalho.

Ainda no tratamento conservador, os medicamentos auxiliam no alívio da dor nos quadros agudos:
  • Analgésicos: os analgésicos simples (acetaminofen, dipirona) podem ser efetivos para as dores leves ou moderadas e são geralmente o primeiro passo na terapêutica medicamentosa. Para dores mais severas, podem ser utilizados analgésicos opioides, como tramadol e codeína. Há novas opções no mercado como os opioides em forma de adesivo, com liberação prolongada, como a buprenorfina, com maior tolerância em pacientes idosos.
  • Anti-inflamatórios: o uso de anti-inflamatórios não hormonais, como diclofenaco, ibuprofeno e nimesulida é praxe para dores agudas. Devem ser utilizados por curto período, em casos de dor crônica agudizada ou dor aguda.
  • Relaxantes musculares: muito utilizados no tratamento de patologias que afetam o sistema musculoesquelético, como a ciclobenzaprina, que mostra-se efetiva na diminuição da dor e da rigidez cervical. Outras opções são os benzodiazepínicos e o carisoprodol. 
  • Antidepressivos: podem ser indicados para os casos em que há o fator psicogênico, como depressão, ansiedade e estresse. Os mais utilizados são os antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina ou nortriptilina, imipramina, clomipramina. A gabapentina é utilizada com frequência nessas situações. A pregabalina também pode ser utilizada em casos com pouca resposta ao tratamento convencional. Os antidepressivos mais recentes, duloxetina e a venlafaxina, são opções terapêuticas, principalmente em pacientes com depressão e ansiedade associadas.
  • Infltrações: as infiltrações ou bloqueios de pontos-gatilhos, com anestésicos associados ou não a corticosteroides, podem promover um alívio mais rápido das dores e facilitar a adesão a fisioterapia ou a programas de exercícios.
  • Toxina botulínica: embora sem evidência científicas definitivas, em alguns casos, pode-se recorrer à injeção da toxina botulínica, com efeito analgésico prolongado, diminuindo contrações e episódios de dor. Vale enfatizar que esta intervenção é indicada para pacientes refratários ao tratamento convencional.

Outras terapêuticas podem ser inseridas no plano de tratamento da Cervicalgia, como a acupuntura, a fisioterapia, massagens, uso de colar cervical:
  • A fisioterapia é fundamental no tratamento e prevenção das dores cervicais recorrentes, pois auxilia no alongamento e recuperação da flexibilidade e funcionalidade dos músculos cervicais. Pode ser indicada em combinação com outras modalidades analgésicas, como aplicação de compressas de gelo, calor, estimulação elétrica, tração cervical, liberação miofascial e técnicas de mobilização.
  • As massagens auxiliam no alívio da dor, pois a manipulação pode melhorar a circulação sanguínea e promove relaxamento da sobrecarga;
  • O colar cervical tem como função imobilizar a região cervical, evitando que haja esforço, pois o mantém em sua posição anatômica. Nas cervicalgias agudas, a manipulação e o uso de colares cervicais não devem ser indicados, podendo inclusive retardar a melhora dos sintomas;
  • A acupuntura, embora também sem evidências científicas robustas, pode contribuir com o alívio da dor, pois estimula ao nível intramuscular através das terminações nervosas presentes na pele, levando informação ao cérebro de que aquela região necessita de um efeito analgésico.

Referências

ANTONIO, Silvio Figueira Antonio; SACILOTTO, Nathália de Carvalho; PAIVA, José Gerardo Araujo. Cervicalgias. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP): Manole, 2019, p. 506-509

PAI, Marcus Yu Bin. O que é Cervicalgia? Quais as causas, sintomas e tratamento? Disponível em: http://www.hong.com.br/o-que-e-cervicalgia-quais-as-causas-sintomas-e-tratamento/. Acesso: 12/04/2022.