Imunobiológicos


Texto original: 15/01/2020
Revisão: 06/01/2023


O que são?  

Os imunobiológicos, ou biofármacos ou, ainda, simplesmente biológicos, são medicamentos produzidos a partir de organismos vivos (como bactérias, leveduras, células animais, por exemplo) a partir de técnicas complexas de biotecnologia, geralmente com moléculas de proteína de tamanho relativamente grande e muito complexas.

Um dos primeiros biofármacos a surgir foi a insulina humana, desenvolvida no final de década de 70 e colocada no mercado a partir de 1982. Foi produzida em cultura da bactéria Escherichia coli, que foi geneticamente modificada a partir de técnicas de DNA recombinante, que permitem a manipulação do DNA.

Com essa técnica, é possível isolar genes, cloná-los e recombinar pedaços (geralmente de duas ou mais espécies diferentes). A partir daí, transfere-se esse material genético modificado para o DNA de um "hospedeiro" (como foi a bactéria Escherichia coli), que será, então, reprogramado para produzir uma proteína de interesse.

Em 1985, a mesma tecnologia produziu o hormônio de crescimento humano e, em 1986, foi desenvolvido o primeiro produto biológico contra rejeição de transplantes. A partir de então, e principalmente nos últimos 20 anos, novos fármacos biológicos têm sido produzidos, medicamentos específicos e dirigidos a determinados alvos moleculares, o que os fazem atuar em muitas doenças que, até então, não podiam ser tratadas com as terapias tradicionais.

Um dos primeiros "alvos" dos medicamentos biológicos foi o fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α), citosina pró-inflamatória que pode causar artrites (inflamações) dolorosas em doenças autoimunes, como a Artrite reumatoide, além de permitir o aparecimento de tumores e causar choque séptico. Progressivamente, a terapia foi sendo dirigida a outros alvos, o que ampliou a gama de medicamentos existentes.

E há, ainda, os medicamentos biossimilares, que são cópias autorizadas dos medicamentos biológicos. Para saber mais sobre eles, clique aqui.


Alguns medicamentos biológicos disponíveis no Brasil para doenças reumáticas

  • Inibidores do fator de necrose tumoral-alfa (anti-TNF-α)
    • Adalimumabeindicado para Artrite Reumatoide, Artrite Idiopática Juvenil (na forma poliarticular em pacientes a partir de 2 anos de idade), Artrite Psoriásica, Espondilite Anquilosante, Espondiloartrite axial não-radiográfica, Doença de Crohn, Colite Ulcerativa (ou Retocolite Ulcerativa), Artrite relacionada à entesite, Uveíte pediátrica, Hidradenite supurativa e Psoríase em placas. Saiba mais aqui.
    • Certolizumabe pegolindicado para Artrite Reumatoide, Artrite PsoriásicaEspondilite Anquilosante e Espondiloartrite axial não-radiográfica. 
    • Etanercepte: indicado para Artrite Reumatoide, Artrite Idiopática Juvenil (na forma poliarticular em pacientes a partir de 2 anos de idade), Artrite Psoriásica, Espondilite Anquilosante
    • Golimumabe: indicado para Artrite Reumatoide, Artrite Psoriásica e Espondilite Anquilosante.

  • Terapias de modulação/inibição de linfócitos
    • Abatacepteindicado para Artrite Reumatoide, Artrite Psoriásica e Artrite Idiopática Juvenil em pacientes a partir dos 6 anos. Clique aqui para saber mais.
    • Belimumabe: indicado para Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). 
    • Rituximabeindicado para Artrite Reumatoide e Granulomatose com poliangiíte e poliangiíte microscópica.  Saiba mais aqui.

  • Inibidores de interleucinas
    • Canaquinumabeindicado para Doença de Still de Adulto, Artrite Idiopática Juvenil ativa (a partir de 2 anos de idade), Síndromes Periódicas Associadas à Criopirina (CAPS), Síndrome Periódica Associada ao Receptor do Fator de Necrose Tumoral (TRAPS), Síndrome da Hiperimunoglobulinemia D (HIDS) / Deficiência da Mevalonatoquinase (MKD) e Febre Familiar do Mediterrâneo (FFM). Saiba mais aqui.
    • Secuquinumabe: indicado para Artrite Psoriásica e Espondilite Anquilosante. 
    • Ixequizumabe: indicado para Artrite Psoriásica, Espondilite Anquilosante e Espondilite axial radiográfica. 
    • Tocilizumabe: indicado para Artrite Reumatoide, Arterite de Células Gigantes (Arterie temporal) e Artrite Idiopática Juvenil (na forma poliarticular a partir de 2 anos)Clique aqui para saber mais
    • Ustequinumabe: indicado para Artrite Psoriásica. 

  • Bloqueador do fator nuclear kappa B (RANKL)


Precauções gerais

Infecções
Pacientes em uso de medicamentos biológicos apresentam maior risco de contrair infecções graves em comparação com pacientes recebendo drogas modificadoras do curso da doença sintéticos (DMARDs), sobretudo no primeiro ano de tratamento (e, segundo alguns pesquisadores, principalmente nas 6 primeiras doses do medicamento).

Os fatores de risco são: pacientes com idade maior que 60 anos; portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica e/ou insuficiência renal crônica; pacientes diabéticos; pacientes em uso de corticosteroides (≥ 7, 5 mg (prednisona) – risco aumenta 2,2 vezes; ≥ 15 mg (prednisona) – risco aumenta 4,7 vezes) e com infecções graves prévias.


Tuberculose
O uso de medicamentos bloqueadores de TNF-alfa (anti-TNF) está associado ao aumento de risco para tuberculose de 4 a 25 vezes, quando comparado a pacientes em uso de DMARDs sintéticos. Por essa razão, antes do início do tratamento, é imprescindível fazer exames para rastreamento de tuberculose latente antes do tratamento.

Em 2017, o Ministério da Saúde passou a recomendar em seu Guia de Vigilância em Saúde que pacientes portadores de tuberculose latente, mesmo os não imunossuprimidos, passassem a receber o medicamento para tuberculose isoniazida durante nove meses, conforme já recomendam alguns protocolos internacionais. Essa nova diretriz também sugere o uso do medicamento rifampicina por quatro meses como esquema alternativo para pacientes que apresentaram toxicidade a isoniazida e em outras situações especiais.

Por fim, deve-se ter em mente que existe uma estreita ligação entre diabetes e tuberculose. A explicação está no fato de que a pessoa com diabetes é também imunossuprimida, assim como quem toma drogas modificadoras de doenças reumáticas, tanto sintéticas quanto biológicas. Dessa forma, o diabético tem uma tendência maior de sofrer infecções, especialmente tuberculose, sobretudo se estiver com a glicose fora de controle. Por essa razão, o rastreamento e controle da diabetes são necessários quando do tratamento com imunobiológicos.

Hepatite B
O risco de reativação da hepatite B é especialmente mais elevado com o uso de Rituximabe e, portanto, o rastreamento de hepatite é importante, mesmo em portadores inativos para a doença, pois estudos indicam que, mesmo em pacientes com anticorpos, houve reativação em uma parcela significativa de pacientes. A terapia antiviral (com medicações específicas) reduz esse risco e, portanto, é recomendada para determinados pacientes de acordo com seu tipo de imunossupressão. Embora não exista consenso quanto à escolha da medicação, pacientes com alto risco de reativação devem preferencialmente receber os agentes antivirais mais recentes disponíveis no mercado. É importante consultar seu/sua médico/a. 

Hepatite C
A utilização de imunobiológicos em portadores da hepatite C é considerada segura, embora haja raros casos de reativação da doença. É contraindicada em casos de cirrose hepática, quando o risco-benefício do tratamento deve ser bem avaliado. É importante consultar um infectologista ou hepatologista para avaliar necessidade de tratamento para hepatite C antes da imunossupressão. Exames que avaliam as funções do fígado devem ser monitorizadas realizados com intervalo máximo de três meses.

HIV
Não há contraindicação para o uso dos imunobiológicos, mas deve-se ter atenção para a contagem de linfócitos (série branca no exame hemograma), particularmente no uso de Rituximabe.

Herpes-zóster
Embora não haja, segundo a Liga Europeia Contra Reumatismo (EULAR), aumento de incidência da doença comparando-se biológicos e sintéticos, recomenda-se vacinação em pacientes maiores de 50 anos.

Vacinação

Antes do início do tratamento, recomenda-se a atualização das vacinas, de acordo com a faixa etária e dos fatores de risco de cada grupo de pacientes.


Referências

INTERFARMA. Entendendo os medicamentos biológicos. São Paulo, Interfarma - Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, 2012.

SAAD, Carla G. Schain et al. Imunobiológicos. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP): Manole, 2019, p. 725-733.