AINES



O que são?

De um modo bem simples, os anti-inflamatórios não esteroidais, ou AINEs, correspondem a um grupo variado de fármacos que exercem, principalmente, efeitos anti-inflamatórios, analgésicos (redução da dor) e antipiréticos (redução da febre).

A maioria desses fármacos compartilha um modo de ação comum, que é o "bloqueio" (ou inibição) da enzima ciclooxigenase, ou simplesmente COX que, no corpo, é responsável pela produção de prostanoides, mediadores importantes em quase todos os fenômenos associados à inflamação, tais como dor, febre e vasodilatação (dilatação dos vasos sanguíneos).

A COX tem dois subtipos mais importantes, a COX-1 e a COX-2. A primeira está presente na maioria dos tecidos do corpo e leva à formação de prostanoides em pequenas, mas contínuas, quantidades. Já a COX-2 não é detectada na maioria dos tecidos, mas é induzida, isto é, "surge" a partir de uma resposta inflamatória, com produção de maiores quantidades de prostanoides.
Como existem receptores de prostanoides em todas as células do corpo, é necessário o bloqueio da COX para que não haja produção de prostanoides. Essa é, então, a grosso modo, a função dos AINEs. 
A ação anti-inflamatória ocorre pelo bloqueio da COX-2, enquanto o bloqueio da COX-1 está relacionada às reações adversas geradas pelos AINEs (sobre as quais falaremos mais abaixo).

Classificação dos AINEs

Os AINEs são classificados segundo sua ação sobre a COX. Os fármacos mais antigos, ou tradicionais, são não seletivos, ou seja, inibem as duas COX; já os seletivos inibem a COX-2 e são chamados coxibes:


Fig. 1: Classificação AINES
Fonte: ALBUQUERQUE (2019)


Embora o ácido acetilsalicílico seja considerado um AINE, seu uso atual, em baixas dosagens, se dá como um antiagregante plaquetário (para evitar a formação de tromboses), com mínimo efeito anti-inflamatório.

Reações adversas

Todos os medicamentos, incluindo os AINEs, têm risco de causar efeitos colaterais. Por isso, é importante que o/a paciente entenda tais riscos e também os benefícios de um medicamento para a tomada de decisão:

Reações gastrointestinais
  • Sintomas gastrointestinais ocorrem em cerca de 30-50% dos usuários de AINES, incluindo empachamento, dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, edema, anorexia, erosões e úlceras.
  • Os AINES seletivos para COX-2 são menos propensos a causar danos ao sistema gastrointestinal.
  • A ocorrência de complicações graves como sangramentos, perfuração e obstrução, com necessidade de internação hospitalar, é de 1 a 2%, com mortalidade de 5-10%. 
  • Toxicidade no fígado, embora rara, pode ocorrer nos 6 primeiros meses de tratamento. Hepatite grave foi reportada raramente com uso de Diclofenaco, Indometacina, Sulindaco e Lumiracoxibe, os dois últimos já retirados do mercado. 
  • Os AINEs também foram associados com exacerbação de doenças inflamatórias intestinais, como a Doença de Crohn e, possivelmente, a retocolite ulcerativa. 
  • A duração do tratamento tem relação direta com as complicações. O risco é aumentado:
    • em pacientes idosos (maiores de 65 anos); 
    • em portadores de doenças crônicas: como Artrite reumatoide, diabetes, DPOC, doença coronariana; 
    • em alcoólatras;
    • em usuários concomitantes de corticoides, anticoagulantes e antiagregantes plaquetários, como o Ácido acetilsalicílico.

Reações renais
  • As lesões renais ocorrem em 1-5% dos pacientes, incluindo retenção de sódio e edema, insuficiência renal aguda, necroses, nefrites (inflamação dos rins), glomerulonefrite (inflamação do glomérulo, parte do rim responsável pela filtragem do sangue), aumento de potássio no sangue (hipercalemia), lesões etc.  
  • O risco maior está nos primeiros 30 dias de uso, porém o dano pode ocorrer a qualquer tempo. 
  • O risco é aumentado:
    • em pacientes idosos (maiores de 65 anos); 
    • em portadores de doença renal preexistente, com insuficiência cardíaca, síndrome nefrótica ou cirrose hepática ;
    • em usuários de diuréticos, de certos anti-hipertensivos (inibidores de enzima conversora da angiotensina e bloqueadores do receptor de angiotensina II, de aminoglicosídeos (antimicrobianos usados em alguns tipos de infecção), de anfotericina B (antifúngico)  e, ainda, de radiocontraste.

Reações cardiovasculares
  • Os efeitos cardiovasculares incluem infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico e eventos trombóticos, os dois últimos principalmente em paciente com AR. 
  • Tais efeitos são verificados, principalmente, nos primeiros 14 a 30 dias de uso. 
  • Naproxeno (em doses até 1000mg/dia), Ibuprofeno (em doses até 1200mg/dia) são considerados com menores chances de eventos cardiovasculares graves (com preferência ao Naproxeno).
  • Até 5% dos pacientes desenvolvem hipertensão arterial, o que é mais frequente com o uso dos coxibes.
  • Vários fatores de risco parecem estar implicados na elevação do risco de reações cardiovasculares, como hipertensão arterial, retenção de sódio e água, vasoconstrição e/ou arritmia cardíaca.

Outras reações
  • Retenção de líquidos (que causa inchaço, por exemplo, nas pernas, pés, tornozelos e mãos).
  • Erupções cutâneas ou outras reações alérgicas, como erupção morbiliforme, eritema multiforme, pseudoporfiria (associada ao uso de Naproxeno em crianças pequenas com Artrite Juvenil). Algumas são possivelmente fatais, como síndrome de Stevens-Johnson (reação alérgica grave, que causa lesão da pele, olhos e mucosas) e necrólise epidérmica tóxica (tipo muito grave de reação alérgica que afeta mais de 30% da pele). 
  • Broncoespasmo em pacientes com doenças respiratória exacerbada por ácido acetilsalicílico, particularmente naqueles com o trio rinite, polipose nasal e asma.
  • Meningite asséptica, embora raramente reportada.
  • Infertilidade reversível em mulheres, risco de aborto no início da gestação. Recém-nascidos  (cerca de 20%) de gestantes em uso prolongado de Indometacina pode apresentar insuficiência renal aguda, geralmente reversível.

    Comunique ao médico

    O/A paciente deve notificar o médico se tiver sintomas como febre ou tosse, diarreia ou reações alérgicas ao tomar o medicamento. Deve comunicar, ainda, se tiver alguma das seguintes condições:
    • Problemas conhecidos nos rins ou fígado;
    • Problemas estomacais, como refluxo, gastrite ou úlceras;
    • Problemas cardiovasculares, como pressão alta, insuficiência cardíaca, acidente cerebrovascular ou ataque cardíaco prévio;
    • Doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn ou retocolite ulcerativa;
    • Uso de medicamentos anticoagulantes, anti-hipertensivos, diuréticos, corticosteroides, antimicrobianos, antifúngicos;
    • Gravidez ou amamentação;
    • Cirurgia marcada enquanto estiver tomando o medicamento.

    Referências

    ALBUQUERQUE, Cleandro Pires. Anti-inflamatórios não esterodais. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP), Manole, 2019, p. 707-718.

    AMERICAN COLLEGE OF RHEUMATOLOGY. AINE (medicamentos antiinflamatorios no esteroides). Hoja Informativa del Paciente, 2019. Disponível em: https://www.rheumatology.org/Portals/0/Files/AINE-Medicamentos-Antiinflamatorios-No-Esteroides-Fact-Sheet.pdf?ver=2019-10-02-100311-137. Acesso: 28/11/19.

    ROCHA, Francisco Airton C.; GIRÃO, Virgínia Cláudia C. Inflamação e seus mediadores. In: Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Barueri (SP), Manole, 2019, p. 128-132.